sábado, 29 de setembro de 2007

Antropologia de Oswald Spengler

A filosofia, ou melhor, os auto-intitulados filósofos deixaram de pensar e, por isso, não estão à altura da missão da Filosofia: zelar pela Tradição Ocidental e mantê-la viva, de modo a que seja transmitida às gerações vindouras.
Existem diversas tarefas a realizar o mais rapidamente possível, em vez de perder tempo a decifrar as vulgaridades ditas por Heidegger em linguagem difícil ou discutir as pós-modernidades, e uma dessas tarefas é retomar a antropologia filosófica, começando por recuperar as antropologias subjacentes a cada filosofia ou sistema filosófico e, deste modo, preparar o terreno para a cyber-antropologia filosófica do nosso tempo.
Uma dessas antropologias é a de Oswald Spengler, de resto bem explicita na sua obra «O Homem e a Técnica», onde, além de retomar uma teoria do homo faber, de cunho nietzchiano e marxista, tal como Hannah Arendt interpreta Marx, avança com noções válidas de filosofia da natureza, com preocupações claramente biológicas e ecológicas (política do ambiente), e de filosofia da técnica, aliás fortemente inspiradas em Marx, um pensador da técnica (Kostas Axelos), e dotadas de crítica pertinente da «mentalidade de engenheiro».
Oswald Spengler tem sido marginalizado e diabolizado, por causa do seu suposto conservadorismo político, mas, tal como a Direita retoma temas da Esquerda, nós podemos, sem esforço, tirar-lhe os seus melhores pensadores e lê-los à luz do nosso compromisso social com a libertação e o esclarecimento.
É evidente que a tese antropológica principal de Spengler não é original e conhecemos muitas variantes dessa tese, nomeadamente a de Leroi-Gourhan e de Gordon Childe: «o homem fez-se homem graças à mão», formulação muito idêntica à de Engels, e o que o distingue especificamente o homem dos restantes animais é a técnica. Esta concepção geral do homem é elaborada numa perspectiva de desenvolvimento, com destaque colocado no facto do homem ser actividade - um ser de acção - e criador de mundos culturais, o que está muito próximo da perspectiva biofilosófica de Arnold Gehlen. Além disso, Spengler destaca a noção de homem como «animal predador», o que não deixa de ser actual nas antropologias de cunho etológico (Robert Ardrey).
Contudo, ao recuperarmos a antropologia de Spengler, devemos confrontá-la com o cyberhomem e exorcizá-la do seu fatalismo e do seu relativismo endémicos. A concepção do homem como criador de instrumentos e de mundos culturais não foi esgotada e, por isso, continua a ser uma via a explorar no estudo do cyberhomem.
(O desenvolvimento destas notas de pesquisa será apresentado no meu blogue CyberPhilosophy.)
J Francisco Saraiva de Sousa

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