domingo, 6 de julho de 2008

Theodor W. Adorno: Música Fetichizada e Regressão da Audição


«A liquidação do indivíduo é a autêntica assinatura da nova condição musical». (Theodor W. Adorno)
A maior parte da música contemporânea exibe características de um "bem de consumo", dominado mais pelo valor de troca do que pelo valor de uso. A dicotomia real não é entre "música séria" e "música ligeira", mas entre "música comercial" e "música não orientada para o mercado". Um dos resultados desta mercadorização da música e da sua massificação é a desintegração actual da educação: os consumidores da arte são incapazes de considerar e de conhecer a distinção entre a "arte superior autónoma" e a "arte comercial ligeira". Em Portugal, como nos restantes países do mundo globalizado, a "música comercial" integra diversos tipos musicais, entre os quais a "música popular" ou mesmo a "música erudita", no grande sistema da "indústria cultural" atemporal cuja missão é impedir "a formação de indivíduos autónomos e independentes, capazes de avaliar com consciência e de tomar decisões". Este sistema da indústria cultural constitui o âmago da cultura capitalista alienada tardia, na qual os homens veneram cega e obedientemente os seus próprios produtos como objectos reificados. Destituída da sua transcendência e da sua negatividade, a cultura torna-se "cultura afirmativa": Cultura afirmativa é um conceito forjado por Marcuse para designar a "cultura da época burguesa que, no decurso do seu próprio desenvolvimento, levou à segregação entre a civilização e o mundo espiritual e mental que é considerado como superior à civilização. A sua característica decisiva é a afirmação de um mundo eternamente melhor, universalmente obrigatório e mais valioso, que deve ser incondicionalmente afirmado: um mundo essencialmente distinto do mundo concreto da luta quotidiana pela existência, e, não obstante, realizável interiormente por cada indivíduo para si mesmo, sem nenhuma transformação do estado de facto".
Adorno "localizou" o "pecado original" da separação entre o sujeito e o objecto e da dominação do objecto pelo sujeito na divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual: o pensamento abstracto aparece como uma função da abstracção do mercado (Alfred Sohn-Rethel). Por isso, mostrou-se hostil ao marxismo vulgar que atribuía a primazia à produção, condenando-se a repetir a dominação do objecto pelo sujeito, bem como ao uso do conceito de reificação feito por Lukács. Na filosofia de Adorno, a reificação não é equivalente à objectivação alienada da subjectividade, isto é, à redução de um processo fluído a uma "coisa morta". Na "dialéctica negativa", a reificação significa a supressão repressiva da heterogeneidade, do não-idêntico, da diferença, em nome da identidade: o domínio do mundo natural exterior levou ao controle da natureza interior do homem e, em última análise, ao controle do mundo social. A "sociedade administrada" transformou o "progresso" na sua antítese: a barbárie mais brutal, em função da utilização das modernas técnicas de controle e de vigilância, e a indústria cultural na sua função mistificadora manipulou de tal modo a consciência dos consumidores que conseguiu vencer a sua resistência e, portanto, anular e neutralizar o "pensamento crítico", promovendo a adaptação em detrimento da mudança qualitativa e o conformismo. "Toda a reificação é um esquecimento": esta frase de Adorno não significa que a superação da reificação decorra da recuperação anamnética de um sentido original, a reunificação de um sujeito com a sua objectivação perdida. A reversão do esquecimento não é equivalente a um re-lembrar de algo desmembrado, a recuperação de uma totalidade perfeita ou plenitude original, como sucede em Hegel e Marcuse: significa, sim, a restauração da diferença e da não-identidade no seu lugar adequado, na constelação não-hierárquica das forças subjectivas e objectivas, enfaticamente cognominada "paz".
A fetichização da música não é somente uma categoria psicológica, mas também e fundamentalmente uma categoria económica, enraizada no carácter fetichista da mercadoria, produzida por sociedade dominada pelo princípio de troca: "Marx define o carácter fetichista da mercadoria como a veneração da coisa auto-produzida e que como valor de troca se aliena dos produtores e dos consumidores, dos "seres humanos". Este destaque do papel do fetichismo na indústria cultural revela, pois, a dívida de Adorno para com a obra de Marx. A música foi invadida pelo "ethos capitalista" e, por isso, a sua fetichização é tendencialmente total: a produção e a recepção musicais são dominadas pelos valores de troca da comercialização contemporânea, a qual serve a música como um objecto culinário de fácil digestão. O entendimento estrutural do conjunto musical, no seu desenvolvimento temporal, é sacrificado nos altares de diversos estratagemas usados para vender as obras como mercadorias a vastos auditórios que aprenderam a desejá-las. Adorno analisou o carácter fetichista na música em dois níveis: o da produção e o da recepção musical.
1. Ao nível da produção, o fetichismo musical reflecte-se no predomínio excessivo dos "arranjos" e das "execuções" sobre as "verdadeiras composições", na introdução frequente de "efeitos coloridos" impressionistas, na estandardização das obras musicais, a estandardização do êxito, e na ressurreição nostálgica de estilos musicais passados de moda pelo seu valor evocativo.
2. Ao nível da recepção musical, o fetichismo musical manifesta-se na ênfase dada às "estrelas", tanto na música clássica (Toscanini, por exemplo) como na música popular, no culto do instrumento, como no caso dos violinos Amati e Stradivarius, na necessidade de ir ver o concerto "correcto", em vez de ir escutar a própria música, na audição atomizada dos clímax românticos ou de melodias separadas dos seus contextos construtivos, e no êxtase vazio do entusiasta do Jazz que escuta pelo simples desejo de escutar.
A experiência adquirida por Adorno no "Princeton Radio Research Project" mostrou-lhe que os questionários e as entrevistas não eram suficientes para verificar a fetichização da música, através de técnicas científicas normais, porque as opiniões dos próprios ouvintes não mereciam confiança. Os ouvintes eram incapazes de superar a conformidade das normas culturais, e a sua competência para escutar revelou-se degenerada. Tinham regredido, não fisiologicamente, mas psicologicamente: o sentido da regressão da audição não se dirigia para uma música epocalmente anterior, mas para um "estado infantil" em que o ouvinte era dócil e passivo e temia tudo o que fosse "novo" ou "não-familiar". Este estado de infantilização já tinha sido descrito por Erich Fromm como um "sentimento de impotência". Tal como as crianças que só pedem alimentos que lhes agradaram no passado, o ouvinte cujo ouvido tinha regredido só era capaz de reagir perante uma repetição daquilo que tinha escutado anteriormente. Isto significa que o ouvinte revela uma crescente incapacidade de concentração em qualquer coisa, excepto nos aspectos banais e truncados de uma composição. Na música popular, os ouvintes são programados para aceitar uma música que rejeita todo o desenvolvimento coerente e que exibe, em vez disso, uma temporalidade espacializada do "sempre-igual", a qual ajuda a reforçar subtilmente o status quo como destino inescapável. E, como as crianças que reagem perante as cores brilhantes, o ouvinte sentia-se fascinado pela utilização de recursos coloridos que lhe davam a impressão de excitação e de individualidade. Quando a consciência capitula perante o poder superior da "coisa anunciada" pela publicidade, o auditório acaba por comprar "paz espiritual", fazendo literalmente coisa sua as mercadorias impostas. Ao chamar-se a isto "gosto" individual, nega-se claramente a dependência passiva envolvida na identificação do ouvinte com o que lhe foi "servido" pela indústria musical: o que se prepara e se desfruta musicalmente é uma dieta infantil de sons encurtados, cujo sinal seguro é a recusa arrogantemente ignorante de tudo o que não seja familiar, em prol da repetição interminável das resoluções açucaradas mais cómodas e fluídas.
O comportamento do consumidor de cultura combina os traços masoquistas e, ao mesmo tempo, uma indignação sádica intensa: "O masoquismo da audição define-se não apenas como o auto-sacrifício e o pseudo-prazer pela identificação com o poder. Subjaz-lhe a experiência de que a segurança do abrigo protector nas condições de dominação é meramente provisória, é apenas uma folga, e que no fim tudo há-de acabar por ruir. Mesmo no auto-sacrifício, uma pessoa não se sente bem: ao fruir, sente que trai os possíveis e, ao mesmo tempo, é traído pelo existente. A audição regressiva está sempre pronta a degenerar em raiva". Isto significa que a abnegação masoquista dos ouvintes despolitizados e passivos pode converter-se em raiva destrutiva dirigida para o exterior. A sexualidade frustrada dos "jitterbugs", isto é, dos "percevejos que executam movimentos reflexos, espectadores do seu próprio êxtase", que, no caso de serem mulheres, costumam "desmaiar (ou gritar) quando ouvem a voz de um crooner ou de um cantor de jazz", exprime esta agressividade reprimida. Contudo, esta cólera reprimida parece ser insuficiente para dar um sentido construtivo à "arte popular", embora Walter Benjamin acreditasse no seu "potencial revolucionário".
Fonte: A imagem da "Casa da Música" da cidade do Porto foi tirada daqui: A autoria do edifício é do prestigiado arquitecto e urbanista holandês Rem Koolhaas, e foi concebido para servir um projecto cultural inovador da Porto 2001, Capital Europeia da Cultura.
J Francisco Saraiva de Sousa

45 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

No post anterior, a Papillon fez um comentário muito pertinente que reproduzo aqui:

"Já Platão na República recusa os sete modos musicais gregos e redu-los a dois: o dório que inspiraria contemplação e o frígio que inspiraria virilidade. Considerava também que os ritmos "orgíacos" pervertiam os espíritos e deveriam ser proibidos - esta breve alusão para dizer que a precupação de Adorno, ainda que não nos mesmos termos, não é "nova". Não sei, portanto, se há regressão. Sempre houve música "popular" com a qual as pessoas dançavam "freneticamente" e se libertavam. E popular entre aspas porque ela se designou assim, em oposição à designação de "música erudita", esta sendo académica e canónica.
Tinha um prof que dizia que a música só nos afastava aparentemente da inquietação, e não interessa se estamos a falar de Beethoven, Lester Young ou de trance progressivo. O efeito terapêutico é o mesmo."

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Apesar de Adorno ter criticado com pertinência o Jazz, a Casa da Música oferece concertos de Jazz e as pessoas devem continuar a frequentá-los como sempre fazem. É preciso conhecer todos os estilos musicais e educar o ouvido. Fruir por fruir não conduz à mudança qualitativa.

E. A. disse...

É claro que as pessoas frequentarão concertos de Jazz, se assim forem sensíveis e educadas musicalmente e apreciarem experiências estéticas. Adorno foi apenas ignorante... nada de grave! ;)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Adorno foi ignorante? Um homem que estudou na escola de Viena, trabalhou com grandes músicos e em projectos de rádio e TV, além do "Doutor Fausto" de Mann reproduzir a sua visão musical, o que irritou Schönberg que se sentiu "ultrapassado"!... :)

E. A. disse...

Adorno, tal como Nietzsche também gostaria de ter sido músico, mas à falta de talento, dedicou-se à Filosofia da Música.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Como escrevi no outro post:

"Preferia distinguir entre democratização da arte (algo político e justo: acesso de todos à arte) e massificação comercializada e publicitada instrumentalmente da "arte". Entre ambas, há a mediação da educação e a segunda ameaça destruir e já destruiu a educação."

Adorno dedicou-se à educação da audição e do pensamento, ao mesmo tempo que tocava piano e fazia as suas composições musicais. Um homem muito completo!

E. A. disse...

Sim ignorante não, curta visão, apenas. Não ter percebido a força do Jazz para além do seu lado "popular" é ver pouco.

Foi compositor, tal como Nietzsche, mas fraco... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Não sei se foi fraco, porque nunca escutei Adorno e não conheço as suas composições.
O que interessa é o facto de ter sido um dos maiores filósofos do século XX e, na minha perspectiva, ser filósofo não é estar abaixo do artista: o pensamento e não a arte comanda a vida. Nesse aspecto, todos, incluindo Platão e Adorno, estamos em sintonia total: o primado do pensamento, da filosofia, e a sua importância vital na formação cultural e educativa.

E. A. disse...

Isso é a sua opinião. A meu ver a Filosofia é inferior à Arte, sim. E Platão é poeta-filósofo. Portanto, está um bocadinho (largo) acima de Adorno. :)

E. A. disse...

O que não exclui necessariamente a paideia artística! É claro que devemos ser inciados estética e artisticamente! Disse-o no outro post abaixo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Marcuse depositou a sua confiança na "música negra", a "música dos oprimidos": electrizava o corpo, materializava a alma no corpo e anulava a Nona Sinfonia. Porém, até hoje ainda não se observou o seu efeito libertador: é música consumível. E talvez tenha anulado a sinfonia, em nome da regressão mental e cognitiva.

A arte não é superior à Filosofia, até porque necessita da última para ter efeito cognitivo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ui, a Papillon conhece a obra de Adorno e a sua filosofia e sociologia da literatura? Adorno está acima de suspeita! :)))

E. A. disse...

Eu n acho que o Jazz anule a Nona Sinfonia. Ouço Beethoven e Jazz com a mesma devoção. E, sinceramente, gostaria que fosse mais explícito relativamente à distinção entre "consumível" e "libertador".

Precisamente, a Filosofia submete-se à Arte, porque nesta reside a verdade, revela-se o ente, como diz Heidegger. :)

E. A. disse...

E uma vez que anda em campanha da cidade do Porto, o seu conterrâneo António Pinho Vargas, pianista e compositor de Jazz, lançou novo CD a solo, chamado "Solo".
http://www.antoniopinhovargas.com/home.html

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, a Papillon cita um filósofo para dizer que a filosofia se submete à arte: quer dizer não se saiu do interior da filosofia. E a concepção de Heidegger de arte é deveras curiosa: privilegia o pensamento.

Liberte-se da publicidade: devemos ir aos concertos porque queremos autonomamente ir e porque queremos escutar a música; não porque dizem ou anunciam ser um "concerto a participar". Autonomia e não heteronomia! Fico feliz por Vargas ser portuense! :)

E. A. disse...

Claro que cito Heidegger, a arte não é conceptual, daí ser superior.

Desculpe? Liberto-me da publicidade? Eu sei bem daquilo que gosto, muito obrigada. Eu acho é o que o Francisco não sabe bem é o que está a dizer quando fala de artes menores e "consumíveis" e artes superiores e "libertadoras"... Já foi a um concerto de Jazz? Já foi a um concerto de música de câmara? Já ouviu a Nona Sinfonia ao vivo?

E. A. disse...

«Não partilho igualmente da ideia aparentemente erudita: música popular tocada por músicos clássicos. O que existe são objectos que podem ser utilizados, e para mim é igual pegar numa melodia popular ou numa série de doze tons. É óbvio que o resultado é diferente para quem ouve, em termos de memória e hábito de audição, mas os meus critérios foram relativamente semelhantes durante o trabalho. Não concordo com a posição do Adorno, que considerava ( nos anos 30, mas creio que ainda no fim da vida ) que o material musical tinha propriedades ideológicas em si. O que há são contextos históricos de produção diversos; mas hoje, mais do que nunca, o artista é ‘ladrão’. Devo dizer que o que mais gostava era de pegar fosse no que fosse e fazê-lo meu; levar às últimas consequências uma ideia do Franco Donatoni - o material é ‘indiferente’. O que interessa é o que se faz com ele!»

António Pinho vargas

E. A. disse...

http://homepage.mac.com/vitor.rua/iblog/C633734543/E1886629635/index.html

E. A. disse...

Peço desculpa: saiu a gaguejar... :)
Vou almoçar!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Quando referi a Nona Sinfonia, pensava no Doutor Fausto de Mann.

Eu não critiquei o seu "gosto" e as suas preferências; no entanto, há uma diferença entre as nossas posturas: eu não sou conformista; critico e tomo partido. Além disso, sou dialéctico e pluralista, sem deixar de criticar. Música feita e exaustivamente preparada para o mercado, visando o êxito em termos de vendas e de lucro, é música consumível que não arrisca o não-habitual. A música popular que temos hoje é desse género. Ou pensa que a música pimba, por exemplo, é libertadora e educativa?

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Vargas deve ser aprovado ou não pela sua produção musical e não pelo que diz sobre a sua produção!

Sim, tentar encobrir a ideologia é submissão aos poderes instituídos, ao pensamento único e ao mercado: abnegação masoquista!

E. A. disse...

Pode ter a certeza que todos os músicos de Jazz que conheço, não visam o público, se visassem viveriam muito melhor, pois os seus discos vendem pouco.

Pensei que estivéssemos a discutir Jazz e não música pimba.
O que sempre foquei foi a crítica de Adorno feita ao Jazz, mas também à música popular em geral, na qual se inscreverá a música tradicional. Se o Francisco é inconformado e dialéctico e etc., ainda bem para si. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, fazia parte do projecto deste post exemplificar com o caso do jazz, mas ele ficou longo o suficiente: noutra oportunidade retomarei a crítica do jazz em contexto alargado a outros estetas.

Já leu o Posfácio escrito por Heidegger à sua obra, A Origem da Obra de Arte, onde aceita o veredicto de Hegel sobre o fim da grande arte?

Não conheço a sua perspectiva sobre o Jazz; Marcuse defendeu-o mas sem resultados positivos: o jazz está culturalmente integrado na indústria cultural.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas, como sou desafiado, prometo prestar mais atenção à música actual, até porque tenho acesso a revistas sobre música e cultura popular, bem como a estudos científicos sobre os efeitos da música sobre o consumo em restaurantes, por exemplo. :))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ok, forneço-lhe a última frase de Adorno (1953) do seu último escrito sobre Jazz:

"O Jazz é a falsa liquidação da arte: a utopia, em vez de se realizar, desaparece."

E. A. disse...

Ele aceita a "morte da arte" provisoriamente, é a pergunta que ele lança, não é uma determinação absoluta.
De facto a escultura de Fídias e a poesia de Píndaro podem ser consideradas insuperáveis. Mas, isso não significa que a essência da arte esteja de algum modo desvirtuada, daí que ele conclua a dizer que: [a história da essência da arte ocidental] é tão pouco compreensível a partir da beleza tomada só por si, como a partir da vivência, na suposição de que o conceito metafísico de arte possa alguma vez alcançar a essência da arte.
Heidegger, como saberá, opõe-se à história da metafísica, como história da ocultação do Ser.

Faz muito bem em ouvir música - boa música, diga-se - talvez ela lhe abra o coração e a mente. :)

E. A. disse...

Sim, a partir de 1953 calou-se sobre o Jazz, porque o Jazz foi por outros caminhos, menos "populares" e mais "eruditos"... com o grande e genial Miles Davis à cabeça :)))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já percebi a sua opinião, Papillon, e, como disse, Heidegger não era um esteta: nunca aceitaria um leitura estética da sua obra, tal como não aceitou as outras leituras (ética, antropológica ou existencialista).

Sim, Heidegger destestava tudo o que fosse "americano" e duvido que tenha pensado o jazz como "arte". O seu conceito de Poesia não é "poético": pensamento do sentido, um novo habitar a Terra.

Não percebi essa de eu não escutar música, porque não faz sentido.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estava a ver um artigo sobre Bob Schulz e sua Frisco Jazz Band. Mas fiquei atraído por outro: a construção popular da feminilidade das "Spice Girls".

E. A. disse...

«O seu conceito de Poesia não é "poético": pensamento do sentido, um novo habitar a Terra.»
Na Origem da Obra de Arte, isto não se aplica, ele é bem explícito: o belo pertence ao auto-acontecimento da verdade. A arte que deixa acontecer verdade é Poesia e Poesia não é apenas poesia...

Bom, mas como "já percebeu a minha opinião", fica assim.
Eu disse para ouvir boa música, n disse para ouvir apenas música - é disso que estamos a falar n é? Educação do ouvido.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, os restaurantes com determinados tipos de música incentivam o consumo e cada tipo está associado a um padrão de despesa (o dinheiro que se gasta). Os tipos estudadoos foram: classical, jazz, popular e easy listening.

E. A. disse...

Isso é interessante. Temos um espaço comercial (na família) em que há música clássica (aqui compreende-se clássica, romântica, ópera) a tocar sempre, até porque faz parte do conceito do dito estabelecimento.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, mas a música é instrumentalizada e colocada ao serviço do lucro: o consumidor consome tudo, qual devorador, sem se aperceber que é manipulado. Adorno tinha razão quando falou do fetichismo musical! :)

E. A. disse...

Coitadinho do consumidor. Ele deveria era estar feliz de ouvir boa música e de estar integrado num espaço sofisticado... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Essa "felicidade da engorda" é patética e falsa! :)))

E. A. disse...

Pois Francisco, mas nem toda a gente pode ser filósofo e criticar o sistema; há outros que são comerciantes e n querem saber se a felicidade da engorda é falsa, nem querem ouvir falar de dietas! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Csa da Música tem um vidro partido; é o preço que se paga devido à prática de desportos juvenis nas suas ondas exteriores. Aliás, uma boa ideia do arquitecto holandês. Os jovens jogam e a casa funciona como um atractor lúdico. Na cidade, a maior parte dos jovens não têm acesso a estes espaços de jogo e de brincadeira: eles fazem parte da "casa" e promovem um crescimento saudável. :)

E. A. disse...

No Porto não há skate parks?

E. A. disse...

«Na cidade, a maior parte dos jovens não têm acesso a estes espaços de jogo e de brincadeira»

Já respondeu! O Porto é uma simpática aldeia. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Tem skate parks, mas não são suficientes. Ui, Papillon, temos muitos parques, jardins e árvores.
Conhece as nossos parques?

"Aldeia" é uma noção relativa à mente: talvez em Lisboa haja mais aldeões do que no Porto. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Em Lisboa os apartamentos têm jardins privados! Sic..., a Papillon está com febre! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Também no uso do espaço e na sua necessidade há um diferença sexual: os rapazes exigem mais espaço de acção do que as raparigas, para beneficiar de um desenvolvimento saudável. É a noção de tribo por oposição às relações diádicas! Já falei disso... E as condições de vida urbana não levam isso em conta, nem as escolas. Daí os comportamentos problemáticos e as paredes e muros pintados e assinados.

E. A. disse...

Bla bla bla... está a ficar muito previsível. Se se brinca com o Porto começa logo a espingardar!

"Sou muito inconformado, muito dialéctico, sou muito, tão, mais...,
mas admito que tenho estes tiques provincianos de defender irracionalmente o Porto. Talvez um dia me torne elegante como a Borboleta." :)

E. A. disse...

Lembro-me de ir com amigos meus fazer grafittis ao longo da linha de comboio! Mas era só acompanhar os rapazes, porque a polícia passava e depois iam fazer uma visitinha à polícia.

E. A. disse...

E as meninas gostam de bad boys! :)))