quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Georg Lukács vota em José Sócrates

«Entre a epopeia e o romance - as duas objectivações da grande literatura épica - a diferença não se deve às intenções íntimas do escritor, mas aos dados histórico-filosóficos que se impõem à sua criação. O romance é a epopeia de um tempo em que a totalidade extensiva da vida não é já dada de maneira imediata, de um tempo para o qual a imanência do sentido à vida se tornou problema, mas que, apesar de tudo, não cessou de aspirar à totalidade.» «O carácter estranho desta natureza - a das relações sociais - relativamente à primeira, a apreensão moderna sentimental da natureza, não são mais do que a projecção da experiência que ensina ao homem que o mundo ambiente que ele mesmo criou não é para ele um lar, mas uma prisão». «O romance é a forma da virilidade amadurecida, por oposição à infantilidade normativa da epopeia; (...) isso significa que o carácter fechado do seu mundo é, no plano objectivo, imperfeição, e, no plano subjectivo do vivido, resignação». «Mundo contingente e indivíduo problemático são realidades que se condicionam uma à outra. Quando o indivíduo não é problemático, os seus fins são-lhe dados numa evidência imediata e o mundo cujo edifício foi construído por esses mesmos fins pode opor-lhes dificuldades e obstáculos no caminho da sua realização, mas sem nunca o ameaçar com um sério perigo interior. O perigo só aparece a partir do momento em que o mundo exterior perdeu contacto com as ideias, a partir do momento em que essas ideias se tornam no homem factos psíquicos subjectivos. A partir do momento em que as ideias são apresentadas como inacessíveis e se tornam, empiricamente falando, irreais, a partir do momento em que são mudadas em ideais, a individualidade perde o carácter imediatamente orgânico que fazia dela uma realidade não problemática. Tornou-se ela mesma o seu próprio fim, porque aquilo que lhe é essencial e faz da sua vida uma autêntica vida, ela o descobre em si de ora em diante, não a título de posse nem como fundamento da sua existência, mas como objecto de busca. todavia, o mundo que o rodeia não instaura senão um outro substrato, uma outra matéria das formas categoriais que instituem o seu mundo interior: é por isso necessário que a brecha intransponível entre o ser efectivo da realidade e o dever-ser do ideal constitua a própria essência do mundo exterior.» «O romance é a epopeia de um mundo sem deuses: a psicologia do herói romanesco é demoníaca, a objectividade do romance, a viril e madura constatação de que nunca o sentido poderia penetrar de lado a lado a realidade e que, portanto, sem ele, esta sucumbiria ao nada e à inessencialidade». (Georg Lukács)
«Com efeito, embora não o admitamos, suponhamos que a investigação contemporânea demonstrou a inexactidão de facto de cada afirmação isolada de Marx. Um marxista ortodoxo sério poderia reconhecer incondicionalmente todos estes novos resultados, rejeitar todas as teses isoladas de Marx, sem por isso, por um só momento, se ver forçado a renunciar à ortodoxia marxista. O marxismo ortodoxo não significa, pois, uma adesão sem crítica aos resultados da pesquisa de Marx, não significa uma fé numa ou noutra tese, nem a exegese de um livro sagrado. A ortodoxia em matéria de marxismo refere-se, pelo contrário, e exclusivamente, ao método. Implica a convicção científica de que, com o marxismo dialéctico, se encontrou o método de investigação justo, de que este método só pode ser desenvolvido, aperfeiçoado, aprofundado no sentido dos seus fundadores; mas que todas as tentativas para o superar ou melhorar levaram apenas à sua vulgarização, a fazer dele um ecletismo - e tinham necessariamente que levar aí. /A dialéctica materialista é uma dialéctica revolucionária.» (Georg Lukács)
J Francisco Saraiva de Sousa

10 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Lukács foi o pai do marxismo ocidental e um dos maiores filósofos do século XX. O seu universo é simplesmente maravilhoso e cristalino. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Os líderes políticos de hoje são cognitiva e mentalmente indigentes, mas muito arrogantes, como se fossem agentes culturais. A nossa época é muito pobre em termos de cultura - reina a mediocridade e a corrupção.

Se retomarmos a obra de juventude de Lukács, podemos aprofundá-la e compreender o que ocorreu com o homem problemático no nosso tempo, ao mesmo tempo que modificamos certas teses de Popper.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuela Ferreira Leite é a encarnação dessa atrofia cultural! :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estas últimas sondagens apontam novamente para uma maioria de esquerda no parlamento - vamos ver se o próximo governo governa à esquerda e não ao centrão.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Os comentadores de TV são praticamente todos pessoas pouco interessantes e muito oportunistas. São os coveiros da alma nacional!

Vota PS!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Na Quadratura do Círculo de hoje, Pacheco Pereira e Lobo Xavier inventaram, inventaram, distorcendo os factos publicamente conhecidos. A direita reaccionária está louca e desesperada - mente com todos os dentes que tem na boca; cada dente uma mentira. Defende a mentira que atrasa eternamente Portugal e não assume a responsabilidade pelo seu próprio fracasso. A direita é visceralmente incompetente e não tem credibilidade - a prova reside na má gestão do Público que alimentou uma mentira, conspirando contra o governo e José Sócrates. É preciso derrotar esta direita louca e maléfica nas urnas, votando em bloco no PS. A direita está na raíz da crise estrutural de Portugal: credibilidade é-lhe completamente estranha. A direita é incompetente e muito perigosa! Votar PS é dar um pontapé nesta direita ladra e mentirosa.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Submetam MFLeite a um exame de cultura e vejam a nota negativa que teria: um vazio de ideias e de conceitos e de projectos. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

É muito feio ser de Direita e votar neste PSD ultraconservador, porque em Portugal a direita significa atraso, corrupção, mentira, conspiração, falta de liberdade, falta de credibilidade, incompetência, falta de educação e de cultura, campanha de insultos, instrumentalização da comunicação social - como mostra o caso das escutas, pura maldade.

Votar no BE e em Francisco Louçã é votar nesta direita feia e gorda que gera miséria em Portugal. Vota PS!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O medo detrói a mente e faz do oprimido um cúmplice dos carrascos que o oprimem. É puro masoquismo! Liberta-te, deixa de ter medo da direita e vota PS!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ser de Direita é escolher ser um carrasco sem vergonha na cara! É imoral ser de Direita! É um crime!