quinta-feira, 16 de junho de 2011

South Park: A sátira sem limites da democracia americana

«A tarefa essencial de Rabelais consistia em destruir o quadro oficial da época e dos seus acontecimentos, em lançar um olhar novo sobre eles, em iluminar a tragédia ou a comédia da época do ponto de vista do coro popular a rir na praça pública. Rabelais mobiliza todos os meios das imagens populares lúcidas para extirpar de todas as ideias relativas à sua época e aos seus acontecimentos, a mentira oficial, a seriedade limitada, ditadas pelos interesses das classes dominantes. Ele não crê na sua época, "naquilo que ela diz de si mesma e no que ela imagina ser", mas quer revelar o seu verdadeiro sentido para o povo crescente e imortal.» (Mikhail Bakhtin)

«O cómico exige algo como certa anestesia momentânea do coração para produzir todo o seu efeito. Ele destina-se à inteligência pura. /Mas essa inteligência deve permanecer em contacto com outras inteligências. Não desfrutaríamos o cómico se nos sentíssemos isolados. O riso parece precisar de eco. O nosso riso é sempre o riso de um grupo. Para compreender o riso, impõe-se colocá-lo no seu ambiente natural que é a sociedade; impõe-se sobretudo determinar-lhe a função útil que é uma função social. O riso deve corresponder a certas exigências da vida em comum. O riso deve ter uma significação social. /O riso é, antes de tudo, um castigo. Feito para humilhar, deve causar à sua vítima uma impressão penosa. A sociedade vinga-se através do riso das liberdades que se tomaram consigo. Ele não atingiria o seu objectivo se carregasse a marca da solidariedade e da bondade.» (Henri Bergson)

«Quando o homem está de tal maneira desligado (da abertura ao mundo), tenta unir-se a outros homens. E não é por mero acaso que a irrupção do riso seja imediata, mais ou menos "a golpes", e que ressoe, como que para expressar a abertura daquele que ri, na direcção do expirar no mundo; enquanto o choro se desenvolve pouco a pouco, por ser mediato, e na direcção da inspiração, como que para expressar o afastamento do mundo e o isolamento. /No riso, o homem contesta uma situação; contesta-a directa e impessoalmente. Cai num automatismo anónimo.» (Helmuth Plessner)

O meu amigo Wanderson Lima analisou o universo de South Park neste texto - A sátira sem limites de South Park, cuja leitura recomendo. As citações que surgem em epigrafe justificam-se pelo facto dos dois primeiros autores terem sido mencionados no referido texto para explicitar a sua própria teoria da sátira e da sua função social. A citação de Helmuth Plessner é mais um tributo que presto ao mestre que elaborou uma teoria antropológica do cómico. O tema subtil da censura levou-me a escolher a escultura A Menina Nua, localizada na Avenida dos Aliados no Porto, como imagem de fundo que aponta na direcção de um Porto-Abrigo-Seguro sem censura. (Photo: The Naked Girl, OPorto. A escultura portuense é tão bonita - ou talvez mais bonita! - como a Pequena Sereia de Copenhaga, Dinamarca.)

J Francisco Saraiva de Sousa

1 comentário:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Menina Nua é a grande paixão dos meus amigos do facebook! Promovo o Porto no mundo global! :)