segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Projecto Porto Cidade-Estado (1)

Cidade do Porto
O projecto político que vou apresentar aqui acompanha-me há muito tempo. Limito-me a partilhar algumas ideias divulgadas no meu perfil do Facebook. (Na caixa de comentários do post anterior, encontra outras afirmações e aforismos que ajudam a compreender este projecto filosófico e político: pensar a autonomia radical do Porto.)

1. Quem são os portugueses? Não temos estudos sérios para responder a esta questão: os portugueses opinam muito mas são incapazes de se entregar ao pensamento. Daí que os veja como zombies.

2. Se os portugueses não sabem dizer quem são, então posso concluir que não há uma identidade nacional portuguesa. Esta conclusão é fundamental para a elaboração do projecto político Porto Cidade-Estado: a fragmentação "nacional" justifica a afirmação da autonomia radical do Porto. Mesmo sem ter ao meu dispor estudos empíricos, posso facilmente imputar aos portuenses uma personalidade de base, uma identidade própria que os define por oposição à quimera do todo nacional.

3. De certo modo, pretendo utilizar as teorias do eu socializado de Cooley e de Mead para analisar a identidade portuense: as relações entre psique e sociedade possibilitam formular uma teoria filosófica da autonomia radical do Porto. Uma teoria filosófica ilumina a praxis, imprimindo-lhe uma orientação política. Porto Cidade-Estado - a sociedade autónoma portuense - deve produzir os cidadãos de que precisa para se realizar. A imputação de uma identidade portuense por oposição à quimera da identidade nacional visa produzir cidadãos portuenses prontos a lutar pela autonomia da sua cidade e da sua região. Até posso utilizar Freud para mostrar o conflito entre a psique portuense e a sociedade nacional. Fortalecer o Eu Portuense é fundamental para a luta pela autoinstituição da sociedade portuense como Cidade-Estado.

4. Estou fascinado com o projecto Porto Cidade-Estado porque me permite pensar filosoficamente uma nova maneira da filosofia interferir com a política. Sem abdicar dos instrumentos da análise marxista, demarco-me do seu projecto político, colocando-me desde logo no campo do sentido e da identidade.

5. Afinal, quem são os portuenses? A resposta a esta questão está na base do projecto Porto Cidade-Estado tal como o vislumbro. É claro que serei obrigado a introduzir uma ruptura no próprio pensamento portuense: A noção do Porto como "profeta" de Portugal será rejeitada e severamente criticada porque doravante o Porto passará a afirmar a sua autonomia por oposição ao todo nacional. A diferença é desde logo política: o meu objectivo será dar aos portuenses uma política da subjectividade rebelde.

6. Quando referi o eventual recurso a Freud, estava a pensar num Freud transfigurado pela biologia, terreno onde procurarei as forças rebeldes portuenses que recusam fazer parte dessa quimera que é Portugal. Meus amigos: Estou preparado para fornecer uma base biológica ao projecto Porto Cidade-Estado. A fortaleza do coração dos portuenses será testada pela sua reacção ao próprio projecto de autonomia radical. Não se esqueçam que a última palavra pertence sempre à Filosofia.

7. Hoje tenho algum tempo livre para pensar a autonomia radical do Porto. Concebo essa autonomia como capacidade da sociedade portuense para se autoinstituir como Cidade-Estado numa luta permanente contra a heteronomia nacional. Ora, ao encarar a instituição portuense até aqui como heteronomia e alienação, tenho espaço de manobra para elaborar a filosofia da autonomia radical do Porto, rompendo com o seu passado-presente histórico de alienação social. O que me interessa é dar ao Porto um novo imaginário social capaz de levar os portuenses a romper com o todo nacional e a autoconstituir-se como sociedade autónoma instituindo duas instituições fundamentais: a instituição do legein e a instituição do teukhein: pensar um imaginário radical capaz de dar novas significações à cidade do Porto, e realizá-lo na realidade-efectiva.

8. O verdadeiro cidadão portuense debate-se com dois problemas: forjar a sua autonomia individual e a autonomia social da sua cidade. Em qualquer um destes casos, a sua tarefa é liquidar o discurso do Outro e a instituição portuense instituída pelo Outro. Ora, esse outro é a instituição nacional: a autonomia é autoinstituição da sociedade portuense como Cidade-Estado que recusa a tutela do opressor, isto é, de Lisboa, a eterna alienada.

9. A Filosofia da autonomia radical do Porto dirige-se a todos os portuenses e convida-os a unirem-se e a lutarem juntos pela autoinstituição da sociedade portuense como Cidade-Estado. Apesar de não precisar de recorrer à história para fundamentar este desejo portuense, a filosofia da autonomia radical do Porto não esquece a política da memória e do sentido: realizar o desejo portuense é fazer justiça ao sofrimento ancestral dos portuenses que morreram a lutar pela autonomia do Porto.

10. Quando dizem que o Porto é "uma nação", os portuenses dão voz a um desejo ancestral de recuperar a autonomia perdida a favor de instituições nacionais heterónomas e alienantes. De facto, o Porto já foi uma Cidade-Estado, uma entidade autónoma muito semelhante às Cidades Hanseáticas ou às Cidades "italianas" do Renascimento. Chegou a hora de fazer da nação portuense uma Cidade-Estado aberta ao mundo global.

11. Proponho outra categoria filosófica para pensar a autonomia radical do Porto: o êxtase entendido como dar um passo para fora das rotinas normais, heterónomas e alienadas da sociedade nacional portuguesa. A Filosofia da autonomia radical do Porto convida os portuenses de fibra a sair da caverna portuguesa, sozinhos e acompanhados, e a contemplar a noite que antecede o grande dia da libertação portuense. Com efeito, a liberdade pressupõe a libertação da consciência: as possibilidades de liberdade não podem concretizar-se se os portuenses continuarem a pressupor que o "mundo aprovado" da sociedade portuguesa seja o único que existe. A sociedade portuguesa instituída oferece cavernas consoladoras, quentes e confortáveis para alguns portuenses que se alienaram do desejo ancestral dos portuenses. Ora, os tambores batidos pela sociedade instituída encobrem os uivos das hienas portuenses na escuridão. A nossa tarefa é confrontar a condição portuense sem as mistificações consoladoras da sociedade instituída: as hienas que uivam na escuridão da funda meia-noite são os rebeldes portuenses que forjam um futuro novo para o Porto. Ousa sair da caverna portuguesa para conquistares a tua/nossa autonomia portuense.

12. Enfim, o imaginário portuense é instituinte: o seu arqui-inimigo é o imaginário instituído por Lisboa. Sair da caverna portuguesa é romper claramente com o todo nacional a que se chama Portugal. Porém, antes de realizar a auto-instituição da sociedade portuense como Cidade-Estado, é necessário libertar a consciência portuense do jugo nacional: o portuense que grita na escuridão da noite é o rebelde que já está preparado subjectivamente para lutar pela autonomia radical da sua cidade. Irmãos de luta: Viva o PORTO!

J Francisco Saraiva de Sousa

11 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Se amas o Porto luta pela sua autonomia radical! Portugal não tem futuro!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Como já houve debate em torno deste projecto, partilho aqui um esclarecimento que dei:

Para pensar a História da Cidade Invicta como libertação do centralismo seria necessário termos uma filosofia da história do Porto. Ora, não temos. Por isso, penso a filosofia da autonomia portuense como novidade radical. Deste modo, evito fazer história de modo apressado: a filosofia move-se na região abstracta, é teoria que orienta a prática política.

Outro esclarecimento é o seguinte: Limito-me a pensar o imaginário radical do Porto. Só depois poderemos pensar o Norte e finalmente Portugal. Aos meus amigos do Norte ligados à ideia de Portugal cujo nome deriva do Porto digo: Portugal é algo instituído, já feito. É contra esse instituído que lutamos. Portus Cale é algo a fazer, é instituinte e visa criar uma nova realidade social.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

As teorias do Eu Socializado afirmam que a auto-imagem de uma pessoa não precisa ter relação com factos objectivos. Supondo que esta afirmação foi corroborada empiricamente por estudos científicos, a Filosofia pode questioná-la alegando que a formação social de uma tal auto-imagem pode facilmente colidir com a realidade objectiva. Assim, por exemplo, os pais que dizem que os seus filhos são lindos quando na verdade são feios estão a contribuir para a desgraça futura dos seus filhos: a maquilhagem estereotipa a beleza e esconde a fealdade sem a liquidar. Assistimos assim à produção em série de barbies, todas iguais umas às outras. Mas há uma consequência mais perigosa, de resto bem evidente em Portugal: a conspiração dos burros, cujas auto-imagens são reforçadas em rede fechada, contra as pessoas dotadas de dons objectivos. A auto-imagem sem suporte objectivo é uma ilusão perigosa.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Amigos transmontanos também desejam participar no projecto Autonomia do Norte. Não exclui essa possibilidade; pressuponho-a, embora tenha falado apenas do Porto.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Um esclarecimento sobre o projecto Porto Cidade-Estado: Como é evidente, este projecto visa todo o Norte, de modo a refazer Portus Cale. A resistência que ele gera revela a sua força política e o medo dos centralistas que fizeram de Portugal uma ruína. É preciso ser inteligente para conquistar um futuro novo.

Quem são os moçambicanos? É muito difícil responder a esta questão porque Moçambique é uma criação colonial portuguesa. Porém, Moçambique pode pensar a sua autonomia dando novas significações ao seu passado-criação colonial. Há história por fazer: os povos criadores são aqueles que conseguem projectar o seu futuro em moldes radicalmente novos.

Portugal elaborou o mapa da ligação entre Angola e Moçambique: os territórios da Rodésia e da Zâmbia - e não só - foram portugueses. Há uma maneira de fazer nova história: Dar unidade àquilo que foi dividido pelos ingleses. Sejam ousados, amigos!

Hoje estou demais: Estava a pensar que o Brasil podia anexar o Chile e o Peru porque há um túmulo inca que me interessa. O Brasil nunca participou numa guerra: falta essa prova!

Todas as ideias que defendi hoje devem ser pensadas e realizadas por uma constelação de inteligências maquiavélicas: é possível criar uma unidade em torno dessas ideias porque elas rasgam os horizontes do futuro para todos. Qualquer diferença deve ser silenciada perante a tarefa de libertar o nosso futuro: a fusão dos povos lusófonos numa frente-comum é fundamental para criarmos o nosso próprio mundo global.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A religião promete o céu; a filosofia limita-se a iluminar a realidade e a mostrar possibilidades ainda não realizadas.

Os cobardes não fazem história. Ora, os portugueses têm sido cobardes e medrosos. Ousa pensar! Ousa imaginar um novo mundo! Deixa de ser lateiro!

Os portugueses já foram corajosos quando conquistaram os territórios ultramarinos e os defenderam contra tudo e todos. Porém, os povos colonizados depois de terem conquistado a sua independência conformaram-se à herança portuguesa: Não ousaram conquistar novos territórios! Não enriqueceram a herança portuguesa com o seu próprio esforço e sangue!

Meus amigos: o mundo precisa de mudança e não há mudança sem sacrifícios e derramamento de sangue. Deixa de ser frango-de-aviário! Luta! Arrisca!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Dizem que tenho um temperamento difícil. Claro que não permito que interfiram com o desenvolvimento das minhas teorias: Comigo não há consensos prévios que limitem o alcance das minhas ideias. Faço filosofia de modo autónomo. Custa a crer que ainda haja neste mundo clonado homens capazes de pensar de modo autónomo: a minha filosofia é uma criação individual.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

William Graham Summer forjou o termo "etnocentrismo" para designar a atitude estreitamente vinculada aos preconceitos culturais ou sociais de um indivíduo. A batalha do etnocentrismo foi introduzida pelos antropólogos no próprio núcleo da sua formação académica. Porém, falta saber se um antropólogo seria capaz de participar num ritual canibal comendo carne humana. O etnocentrismo tem duas faces: a face branca que consiste numa mera prevenção metodológica contra a imposição dos marcos de referência ocidentais às situações não-ocidentais; e a face negra que consiste num ataque moral contra os valores ocidentais enquanto tais. Esta mudança de direcção do etnocentrismo aconselha o seu abandono. Hoje é necessário sermos entusiasticamente "etnocêntricos" e defender os valores ocidentais, tais como os direitos humanos, a dignidade da vida humana e a liberdade humana. A Filosofia e a ciência são empreendimentos intelectuais ocidentais e, por isso, são etnocêntricas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Quando falo de Guerra, as pessoas ficam assustadas, como se a guerra tivesse sido abolida no mundo contemporâneo. As pessoas ainda não compreenderam que as organizações mundiais submetem os seus países às grandes potências mundiais. O mundo não é transparente e as pessoas andam cegas.

As redes sociais desaprenderam a fazer política: a campanha de insultos individualizados não é modo eficaz de fazer política.

Debato-me com o problema da formação cultural da Cidade do Porto. Conheço as suas mitologias heróicas e uma ou outra construção fantástica. Porém, sou forçado a concluir que a cultura portuense é uma cultura urbana - cosmopolita e aberta ao mundo. Ora, uma cultura urbana é burguesa. O Porto é burguês.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O projecto Porto Cidade-Estado obriga-me a retomar a língua alemã que já não frequento há muito tempo. Vou almoçar e aproveitar para lançar os olhos sobre obras que ajudam a conceptualizar a cultura urbana portuense. Burgofilia pode ser um termo adequado para designar os vínculos que unem os portuenses à sua cidade.

Os profetas do Antigo Testamento - homens rurais - denunciaram os pecados e os vícios das cidades maléficas e Jefferson também as desprezava, acreditando que somente uma nação de lavradores podia permanecer como democrática. O espírito anti-urbano esquece que a liberdade e a diferença só se manifestam na sociedade urbana. Infelizmente, os portuenses vivem mais do que pensam a Cidade do Porto: Não temos um único estudo sobre sociologia urbana do Porto.

As cidades são espaços de contrastes. Para pensar a cultura urbana do Porto, escolhi como interlocutor Georg Simmel: o conceito de cultura é problemático na Filosofia. Simmel define-a como aperfeiçoamento do indivíduo; daí que faça a distinção entre cultura objectiva e cultura subjectiva. O conceito de formação cultural adequa-se melhor ao pensamento de Simmel. Mas para compreender a formação cultural portuense ao longo do tempo é necessário encará-la como formação simbólica que investe diversas esferas da vida social portuense. A tarefa complica-se e, como filósofo, estou mais preocupado com o investimento cognitivo do que com o investimento afectivo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A história urbana da Cidade do Porto obedece aos mesmos princípios do desenvolvimento urbano das cidades europeias. As análises estéticas de Simmel das cidades de Florença e de Veneza ajudam a compreender algumas especificidades do Porto, como por exemplo o vínculo afectivo entre os portuenses e a sua cidade. Em Simmel, a grande cidade protagoniza o individualismo moderno. O Porto já era uma cidade moderna no século XII: a sua cultura urbana sempre foi uma cultura burguesa. Porém, não temos um estudo empírico sério sobre o individualismo portuense. A questão "Quem são os portuenses?" exige uma resposta.

Uma forma engenhosa e inteligente de contornar a ausência de estudos portuenses profundos é pensar a burgofilia dos portuenses como arrependimento: o de ter dado início à formação de Portugal. À luz deste arrependimento podemos pensar o desejo secreto portuense de voltar à restituição integral de Portus Cale.

Um historiador malvado de Coimbra procurou ofuscar o brilho da Cidade do Porto, fazendo de Coimbra o pólo do renascimento português. O homem é tão burro e inculto que esqueceu que houve um renascimento no século XII, do qual participou a Cidade do Porto. Se houve um estilo de vida renascentista em Portugal, ele só podia ocorrer na Cidade do Porto. Afinal, a Universidade de Coimbra nunca ajudou a superar a estupidez cognitiva dos portugueses.